Friday, November 04, 2005

A Praça Vermelha, o coração do império

A emoção é tão grande, com as torres coloridas da Catedral de São Basílio ao fundo da praça, as muralhas e igrejas do Kremlin e a bandeira vermelha a pairar soberana sobre a paisagem, que só por aquele momento já havia valido à pena a viagem até Moscou. Para ser sincero, as ogivas nucleares que os soviéticos gostavam de pavonear nos seus dias de festa combinavam na perfeição com a imponência do conjunto arquitetônico da Praça Vermelha, no coração do império soviético. Em russo, vermelho pode também significar belo, e a praça principal de Moscou passou a se chamar Krasnaya Ploshchad no século XVII por ser um lugar extraordinário e também porque os telhados dos prédios circundantes ao Kremlin era pintados de vermelho.
O mausoléu de Lênin, de mármore marrom escuro, não chega a destoar dos outros edifícios. Antes pelo contrário, é o centro de gravidade do local, para onde todos convergem cada vez que o relógio de uma das torres marca a hora certa. A multidão aglomera-se para ver a troca da guarda, em que os soldados percorrem mais de uma centena de metros em passo de ganso e depois substituem os camaradas às portas do túmulo numa coreografia ao faz parecer aqueles bonecos dos relógios antigos de parede. Os soldados repetem mecanicamente a cena o ano inteiro, a todas as horas, inclusive durante o rigoroso inverno e as suas baixas temperaturas.
O Kremlin é uma grande muralha triangular com 750 metros de cada lado, banhada a sul pelo rio Moscou, tendo sido construído ao longo do século XI. O conjunto de edifícios e igrejas com cúpulas bizantinas é notável, onde se destacam o Grande Palácio, junto ao muro leste, residência dos czares construída em 1838, e a Torre do Sino de Ivan, com 81 metros de altura. Junto à torre, um enorme sino quebrado, que caiu quando tentaram colocá-lo, recorda para sempre a grandiosidade da obra. O museu Armoury, o mais antigo da capital, dentro das muralhas do Kremlin, é o testemunho da opulência e da riqueza que os czares russos acumularam ao longo dos séculos.
Fora das muralhas, a Catedral de São Basílio, com as suas nove cúpulas coloridas, mandada edificar por Ivan, o Terrível*, em 1500, para comemorar a vitória sobre os tártaros, é um monumento único. O seu arquiteto, o russo Postnik Barma, teve os olhos arrancados por ordem do sanguinolento Ivan para que não fizesse outra igual. Do lado oposto ao Kremlin, está o GUM, um edifício do século XIX, o maior centro comercial da era soviética e que hoje é um moderno centro comercial ao melhor estilo dos seus congêneres ocidentais, cheio de griffes famosas.
Com cerca de 10 milhões de habitantes, Moscou está situada no centro da Rússia Européia, a 1300 km de distância dos montes Urais, a linha fronteiriça entre Europa e Ásia. Os dois rios que cortam a cidade fazem a ligação da região com o país inteiro, do Mar Negro ao Báltico, sendo habitada pelo homem desde tempos imemoriais. Foram os vikings, provenientes da Suécia, que se estabeleceram na região no século IX, erguendo as cidades de Nijni Novgôrod e Kiev, a primeira capital da Rússia. O Kremlin e seus arredores começaram a ser construídos ao longo do século XI, mas a fundação de Moscou é atribuída a Yury Dolgorukiy, príncipe de Suzdal, em 1147.

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