Friday, January 14, 2011

Morre Andropov


Numa manhã de fevereiro de 1984, a rádio começa a emitir somente música clássica e marchas fúnebres. O russo Sasha entra pelo quarto, com um ar entristecido, e comunica que Iuri Andropov havia morrido. “Era um bom camarada”, lamenta, na sua ingenuidade. A expectativa agora era, no entanto, saber quem o iria substituir. Estes momentos de passagem de poder no Kremlin eram envoltos em um véu de mistério parecido com a escolha do papa da igreja católica. Os dignatários da ex-União Soviética eram escolhidos por um colégio de eleitos e os seus cargos também eram vitalícios. Nos funerais de estado que era transmitidos em direto pela televisão, o novo secretário-geral do PCUS tinha a honra de segurar a primeira alça direita do caixão. A escolha do Politburo soviético recaiu em Konstantin Tchernenko, um homem da velha guarda de Brejnev, que assumiu o cargo em condições precárias de saúde. Analistas e historiadores crêem hoje que já se desenhava a luta interna pelo poder, entre a velha guarda e os renovadores no Comitê Central do PCUS, e que a escolha de Tchernenko serviu para dar um tempo enquanto a refrega fosse decidida. Konstantin Tchernenko fez duas rápidas aparições públicas, sempre amparado por seguranças, e morreu menos de um ano depois de ter tomado posse. À boca pequena, comentava-se que Tchernenko deveria estar tão doente e debilitado que nem deveria estar se apercebendo do que estava a acontecer.

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