Como é linda a Primavera
Apesar dos incômodos causados pelo degelo inicial, com os passeios cheios de lama quando as temperaturas voltam a subir, a Primavera é um dos momentos mais bonitos que a natureza proporciona nos países de clima frio. Os brotos que despontam nos galhos das árvores crescem em grande velocidade, os pássaros regressam aos bosques, os dias são cada vez maiores e o sol nasce cada dia mais cedo. Quase que se pode notar o crescimento das folhas, dos arbustos, com o verde a tomar conta de tudo. Ao fim de três a quatro semanas, não se consegue imaginar que até há bem pouco tempo estava tudo coberto de neve.
Quando as temperaturas passam a ser positivas, temos uma sensação de leveza no corpo, ao nos libertamos dos casacos, gorros, cachecóis e ceroulas. As cores que o sol trás consigo, depois de quase seis meses de inverno, substituindo o cinza da paisagem, dão nova energia às pessoas, que passam a estar mais bem humoradas. Com pouca vontade de se estar trancado num quarto, mas com os exames à porta, a solução é procurar alguma relva ao sol, no bosque perto da universidade, para estudar. Por esta altura do ano, eu e Marcos recebemos ordem de transferência para o nosso quarto definitivo, no pavilhão sete. Zau iria morar no pavilhão nove, um edifício mais moderno, com doze andares e elevadores, reservado às mulheres e a alguns poucos casais.
Ao final do primeiro ano de faculdade preparatória, o único exame que se fazia era de língua russa. Nas outras matérias, havia apenas um teste sem qualquer nota. Zau, Marcos e eu, que éramos alunos aplicados, tiramos a nota máxima e nos preparamos para as primeiras férias na União Soviética. Ao final da preparatória, todo estudante estrangeiro na ex-URSS ganhava dois meses de férias em casas de descanso do estado. Todos os anos, os alunos da Lumumba rumavam, invariavelmente, no mês de julho, para o Mar Negro, e, em agosto, descansavam às margens do rio Dnepr, na antiga república soviética da Moldávia. Antes de partirmos, Mariano, que não iria nos acompanhar nestas férias, disse-me que estava tudo tratado, que não me preocupasse, que eu e Zau teríamos um quarto só para nós dois no Mar Negro. Grande Mariano. E que, na Moldávia, não seria possível fazer o mesmo arranjo porque só havia grandes dormitórios, para moças e rapazes, em separado, e, portanto, teríamos que nos desenrascar em qualquer lado, brincou.
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