A Coluna Prestes
Luís Carlos Prestes começou a escrever o seu nome na história do Brasil em 1925 ao liderar um movimento armado que visava derrubar o poder das oligarquias que governavam o país, durante a chamada “Primeira República” ou “República Velha”. Apesar da república, a organização política naquele início de século XX remontava ao período anterior, em que os grandes latifundiários decidiam o futuro do país segundo os seus interesses de classe, num sistema baseado nos chamados “currais eleitorais”, com as lideranças políticas a controlarem o sentido do voto de milhões de trabalhadores rurais. Nas cidades, uma recente pequena e média burguesia começava a crescer. Militares, comerciantes, funcionários públicos e trabalhadores eram uma classe minoritária, mais bem informada e politizada, que, excluídos das decisões do poder, começaram a mostrar o seu descontentamento. Surge o movimento operário no Brasil, como todas as suas matizes, e, no seio dos militares, destaca-se o movimento da classe média das tropas do exército nacional, formado na sua maioria por oficiais de baixa patente, com a adesão e simpatia de sargentos, cabos e soldados, que seria conhecido como o “tenentismo”.
Na sua “grande marcha”, entre 1925 a 1927, Luís Carlos Prestes liderou 1500 homens e percorreu 13 estados do Brasil, enfrentando tropas regulares do exército brasileiro, sem sofrer nenhuma derrota no campo militar, granjeando respeito e fama de grande estrategista, com grande capacidade de liderança. A sua coluna era formada por contingentes gaúchos e paulistas que haviam participado em revoltas no ano anterior contra o governo de Arthur Bernardes*, e mantinham focos de resistência. Ao convencer os líderes da rebelião paulista que era possível derrubar o governo, Prestes inicia uma marcha, em abril de 1925, que começa no Paraguai, entra no Brasil pelo atual estado do Mato Grosso do Sul e percorre praticamente todos os estados da região nordeste, regressa a Minas Gerais, refaz parte do trajeto da ida e caminha em direção à Bolívia, onde chega em fevereiro de 1927. No combate a este foco de rebelião permanente, participaram muitos batalhões de jagunços, a soldo dos “coronéis” do nordeste brasileiro, e, suspeita-se, hoje, que até o cangaceiro Lampião* terá sido arregimentado para lutar contra a Coluna Prestes. Depois de mais de 25 mil quilômetros de marcha, Luis Carlos Prestes, líder de um invicto exército de cansados e famintos, decide exilar-se e entregar armas ao governo boliviano.
No seu percurso pelo interior do Brasil, a Coluna Prestes poucas vezes defrontou grandes efetivos do exército. As vitórias militares de Prestes basearam-se mais numa tática de guerrilha e despiste, com avanços e recuos, que ficou conhecida como “guerra de movimento”. Em suas investidas, a coluna liderada por Prestes tomava pequenas cidades do interior e organizava comícios em que se convocava a população a derrubar o governo de Washington Luís, que mantinha o país sob o estado de sítio desde que havia tomado posse, em novembro de 1926. Luís Carlos Prestes e o paulista Miguel Costa, os principais líderes da coluna, não conseguem depor o presidente mas granjeiam grande prestígio pela sua marcha vitoriosa. O movimento abre caminho para a única revolução da história brasileira, a Revolução de 30, e projeta a liderança de Luís Carlos Prestes, cuja fama galga as fronteiras nacionais. Emigrando com a mãe e as quatro irmãs em 1931 para Moscou, Prestes adere posteriormente ao Partido Comunista Brasileiro e lidera uma falhada tentativa de implantação de um regime comunista no Brasil em 1935. Até à sua morte, em 1991, aos 93 anos de idade, Luís Carlos Prestes seria sempre uma grande figura da vida pública brasileira.
* a chamada Revolução Tenentista foi deflagrada em 5 de julho de 1924, em São Paulo, liderada pelo general Isidoro Dias Lopes e o apoio do capitão Joaquim Távora e do major Miguel Costa, que viria a ser o outro grande nome da Coluna Prestes. Os objetivos do movimento eram reduzir o poder dos oligarcas, democratizando o processo político, com a adoção do voto secreto, e a modernização das forças armadas. A revolta foi sol de pouca dura e os resistentes marcharam ao Mato Grosso, comandados por Miguel Costa. No Rio Grande do Sul, os gaúchos tardaram em aderir ao movimento, concentrados que estavam na sua vida política local, divididos entre “chimangos”, oposicionistas liderados por Assis Brasil, e “maragatos”, partidários do oligarca Borges de Medeiros. Somente após o levante do 1º batalhão de Santo Ângelo, em 28 de outubro de 1924, idealizado por Prestes e o tenente Mário Portela, é que os revoltosos gaúchos e paulistas iriam se encontrar para dar início à Coluna Prestes.
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